Nas últimas décadas muito se discutiu a respeito da necessidade de implantação de políticas públicas para a segurança alimentar, tendo em vista o aumento populacional dos últimos anos, que trouxe como conseqüência o aumento da demanda por alimentos.
Infelizmente, neste início de século, uma expressiva parcela da população brasileira ainda sofre com o problema da fome, apesar de toda a tecnologia que hoje se encontra disponível ao agricultor brasileiro.
Uma grande contradição se revela no fato de que o Brasil, um dos maiores produtores mundiais de soja, ainda possui cidadãos sem acesso à nutrição básica. Tal realidade demonstra que não há problemas de insuficiência da produção agrícola, mas sim na definição da política agrícola, que hoje dificulta o acesso à nutrição por uma parte da população brasileira, notadamente sua parcela mais carente.
A criação de monoculturas em larga escala gera uma conseqüência nefasta para o mercado interno de alimentos básicos. A destinação de grandes quantidades de terras para a produção de soja para exportação implica na diminuição da área de produção de culturas básicas como arroz e feijão, alimentos esses que compõe a cesta básica da maioria dos lares brasileiros. Essa diminuição da área plantada gera a redução da safra, num ciclo cuja última conseqüência é o aumento de preços para o consumidor final.
Esse aumento nos preços dos alimentos da cesta básica é extremamente gravoso para famílias de baixa renda, cujos rendimentos mensais são insuficientes para se garantir uma nutrição calórica adequada, já que o gasto com alimentação consome a maior parte da renda dessas famílias.
O aumento da produção voltada para o mercado externo gera também pressões sobre o meio ambiente, pois a necessidade de abertura de novas fronteiras agrícolas resulta no desmatamento de imensas áreas florestais, que cedem lugar a grandes plantações, na tentativa de atender à demanda internacional.
É óbvio que a atividade de produção e exportação de soja é extremamente importante para a economia do país e não se pretende torná-la a causa principal do problema da fome. No entanto se faz necessária a adoção de políticas públicas que minimizem o efeito da produção em larga escala da soja sobre o preço dos alimentos básicos.
Somente a adoção de uma política agrária eficiente e sensível aos problemas nacionais poderá garantir o acesso de todos os cidadãos a uma alimentação saudável e adequada, sem que seja necessário abrir mão do desenvolvimento econômico e da preservação do meio ambiente.